Sempre
gostei de dançar, desde criança. Acredito que amo tanto dançar porque acima de
tudo amo música. Uma vez que estava muito triste pensei: “Só não desisto de
tudo porque existe a música”. A música sempre embalou minha vida, nos momentos
felizes, nos momentos tristes, até mesmo na hora do estudo. Minha família é feita
de música.
Desde que me conheço por gente meu pai ama música clássica, lembro
dele estudando ao som de Rachmaninoff, Haendel, Mozart, etc. Minha mãe quando
estava triste botava na vitrola um Piazzolla e lá ficava ela no sofá de olhos
fechados ouvindo as belas notas. E quando estava muito feliz gostava de ouvir
salsa enquanto cozinhava comidas deliciosas. Meu irmão virou músico,
guitarrista, vive mergulhado nos sons maravilhosos e psicodélicos de Blue
Oyster Cult, UFO, Wishbone Ash, Allman Brothers, Robin Trower.
Meus amigos
são música. Posso dizer que meus melhores amigos foram feitos por causa da música.
“Vem aqui em casa, pois comprei o disco novo do Iron Maiden!”.
Meu namoro
começou por causa da música. Quantas noites passei trocando, pela internet,
vídeos e ideias sobre músicas com o meu amor.
Lembro que
eu devia ter uns 13 anos quando pedi de presente de natal um walkman e uma fita
do Little Richard. Passei dias me requebrando ao som de “Good Golly Miss Molly”.
E queria expressar meu amor pela música! De que jeito? Dançando!
Fiz ballet
quando era criancinha, mas foi por pouco tempo. Depois passou um tempão até me
tocar que eu precisava botar pra fora essa coisa de dançar! Antes mesmo de
entrar no jazz, botava minhas músicas favoritas e ficava dançando em frente ao
espelho lá na sala da casa da minha mãe. Criava coreografias malucas, sapateava
ao som de Paco de Lucia imaginando que eu era uma espanhola, dava giros sem
técnica nenhuma, as vezes me estatelava no chão. Botava o Tchaikovsky e ficava
nas pontas do pé, imaginando que estava me apresentando no teatro, e andava pela
sala toda na ponta do pé, dando giros descoordenados.
Mas com 17
anos decidi entrar no Jazz. Pensei “Acho que já estou meio velha para iniciar
minha carreira de bailarina, porque as grandes bailarinas se iniciaram na dança
aos 5 anos de idade, mas vou fazer aulas por prazer”. E lembro que tinha uns
alongamentos de ballet, demi plié, gran plié, primeira posição, segunda
posição. E eu sentia dores nos meus músculos que não estavam acostumados com
aquilo. Tinha dificuldade com a técnica, mas sempre fui criativa e para a
avaliação final, lembro até hoje que fiz uma coreografia com a música do Elvis:
‘It’s Now or Never”. A escolha da música foi bem apropriada, É AGORA OU NUNCA!
E fui lá e dei o meu melhor.
Depois na
universidade, em um curso árduo de estatística, eu deveria escolher uma matéria
eletiva para contar créditos. Dentre as diversas opções, escolhi dança
contemporânea. Fui apresentada aos vídeos da Martha Graham e Isadora Duncam. A
avaliação final era uma prova escrita e uma coreografia, escolhi a Arabian
Dance do Tchaikowski. Coreografei e lá fui eu com a cara e com a coragem.
Fiquei com 10. Acho que foi meu único 10 na graduação toda...
Depois fui
para São Paulo, com 24 anos. Meu primeiro emprego como estatística. Lembro que
chorei muito, porque pela primeira vez na minha vida ficaria longe da minha
família. E lá estava eu, perdida naquele cidadão. Me sentindo pra lá de
solitária. Stress, pressão, desafios, ansiedade, solidão. Decidi que precisava
dançar, dançar para extravasar, para aliviar, para ser feliz! E foi quando comprei
uma revista ‘Boa Forma’ e tinha uma reportagem “Dance para ficar em forma!”, a
reportagem falava sobre diversas danças e lá estava “Benefícios da dança do
ventre”. Sou descendente de libaneses por parte de pai e foi aí que acendeu uma
luzinha lá dentro da minha cabeça e pensei: “Angel, essa é a sua dança!”. A
reportagem citava algumas escolas de dança do ventre, optei em me matricular na
escola que era mais próxima de onde eu morava. Khan El Khalili. E não é que sem
querer me matriculei na melhor escola de dança do ventre do Brasil? Era o
destino. O primeiro ano foi difícil, posso dizer que eu era a pior aluna da
turma. Tinha dificuldades homéricas, perdi as contas de quantas vezes fui pra
casa, no metrô, chorando. Mas pensei: “Sou capaz!” e não desisti.
Há 13 anos a
dança do ventre é o bálsamo da minha vida. A dança me deu grandes amigas, me
deu (e dá até hoje) grandes desafios, me deu diversos momentos de alegria e
superação. E por isso que digo que a dança mudou a minha vida.
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