domingo, 21 de junho de 2015

Competição de dança do ventre: percepções de uma primeira vez


São 22h13 e estou aqui sentada em frente ao computador, de pijama, refletindo sobre este domingo que foi ao mesmo tempo cansativo e de muitas conquistas e superações. Hoje aconteceu o Festival Encanto dos Véus aqui em São Carlos, que é um evento grande de dança do ventre que começa às 8h da manhã e termina às 8h da noite. Para os amantes de dança do ventre, como eu, é um dia maravilhoso com diversas apresentações, que são divididas em mostras e competições.

Eu nunca havia participado de um concurso até então, nem mesmo como solista. E este ano resolvi que estava na hora de inscrever o meu grupo para a competição de grupo amador. E por que decidi isso? Porque para crescer é necessário sair da zona de conforto, e se propor a competir é evoluir e se superar, tanto para as alunas como para a professora. As condições para poder competir neste evento é que as bailarinas utilizem o véu de seda e um elemento surpresa. Perguntei para minhas alunas do intermediário, que até então nunca haviam manejado um véu na vida, se elas topariam o desafio. E elas toparam! Entramos todas juntas no nosso bote e nos jogamos ao mar!

Foram meses estudando manejo e movimentos de véus, decorando a coreografia, aprendendo giros, aprimorando as técnicas de quadril, braços, etc. E todas elas ali empenhadas e se superando dia a dia, alguns dias eram bons, os passos fluíam, outros dias eram mais difíceis, em que ouvia “Mas esse movimento nunca vai sair!” ou “Odeio esse véu!”.

Foram meses de preparativos, de escolha e definição de figurino, de ensaios cansativos, de união, cooperação, dedicação e superação. Porque um trabalho em grupo é muito mais elaborado que um trabalho solo, porque não basta uma pessoa dançando bem no grupo, e sim que todas estejam dançando bem e sincronizadas. Para a coreografia ficar bonita, deve-se trocar o ‘eu’ por ‘nós’. Essa é a beleza de um trabalho em grupo, abandonar o próprio ego para pensar em algo maior.

E o dia chegou e foi hoje. E lá fomos nós com aquele misto de ansiedade, alegria, exaltação, medo, um turbilhão de emoções! Eu nunca havia ficado tão nervosa em toda minha vida, costumo ficar um pouco ansiosa antes das minhas apresentações, mas ao me sentir responsável por um grupo e desejar que desse tudo certo para elas, me causou um frio enorme na barriga. Porque queria que tudo corresse bem, por elas, não por mim, pois vi todo o esforço e evolução de cada uma delas, e acredito que as mães sintam isso por seus filhos.

E por fim, elas entraram no palco e arrasaram, se superaram e fizeram tudo que haviam se proposto a fazer. Fizeram uma apresentação com quase nenhum erro, estavam totalmente sincronizadas e felizes. E lógico que quando você se inscreve em uma competição, seja ela qual for, você deseja vencer. Tínhamos consciência que a categoria amador dentro de uma competição é muito ampla, e terão bailarinas de diversos níveis, desde iniciantes até as bailarinas avançadas. E por isso que digo que entramos no mar com o nosso bote, mas não deixamos as ondas nos afundar, porque apesar de ser a primeira vez das minhas alunas em uma competição, elas fizeram uma apresentação linda, dentro das possibilidades de uma turma de intermediário. Talvez se a competição fosse dividida por níveis de dança a gente tivesse ganhado, não sei...Mas sei que assisti apresentações lindas, com bailarinas competentes, de níveis mais avançados, e mais experiência em competições.

Lógico que nem tudo são flores, e nem sempre o resultado final de uma competição agrada a todos, porque a banca é formada por seres humanos com histórias, experiências e gostos diversos, então pode ser que o que seja considerado certo e bonito por uma pessoa, não seja considerado tão certo e bonito assim por outra. É uma avaliação muito pessoal, concordo que técnica é técnica e isso não tem como errar na hora da avaliação, porque a banca sempre é composta por profissionais extremamente competentes, mas não só a técnica é avaliada e sim um conjunto de itens.

As vezes acontecem injustiças, as vezes pessoas agem na má fé e se inscrevem como grupo amador sendo que são bailarinos experientes e muitas vezes já dão até aula de dança, mas as vezes isso tudo passa batido...Mas penso aqui que uma categoria amador é bem ampla mesmo e talvez para minimizar este tipo de coisa, fosse necessário uma maior divisão das categorias, algo como: categoria amador júnior (para iniciantes), categoria amador pleno (para intermediários), amador master (alunos avançados) e categoria grupo profissional/professores. Se bem que isso também daria pano pra manga para outro tipo de discussão, será que a minha turma de intermediário é do mesmo nível de uma turma de intermediários de uma outra escola? São diversas questões...Nunca participei de uma competição, muito menos organizei uma competição, então nem imagino o quão seja difícil organizar e definir tudo isso.

Mas no fim, sai com uma sensação boa desta experiência. Vi minhas alunas brilhando ali naquele palco e para mim, foi como se elas tivessem tirado o primeiro lugar. Estou aqui cansada, mas me sentindo realizada, agradecida e cheia de orgulho. A banca forneceu um feedback altamente construtivo e isso nos dará ferramentas para que possamos evoluir mais e mais.

E parabéns a todas as alunas e bailarinas que se propuseram a este desafio!Vocês são vencedoras, não importa sua colocação.

E que venham as próximas! 

"O mais importante não é competir, é vencer [...] vencer a ganância de só querer ganhar. Mesmo porque a arte de vencer aprende-se com a derrota" (Ary Souza - Ser Namastê)

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