E mais um ano se inicia, e tenho certeza que todas nós
esperamos muitas coisas desse novo ano. E são muitos desejos: ter um filho,
mudar de emprego, receber um aumento, fazer aquela tão sonhada viagem, ter mais
saúde, encontrar um amor, se curar de uma doença, parar de fumar, emagrecer,
fazer uma plástica, se matricular em um curso novo, aprender a dançar, etc.
Ontem foi minha primeira aula do ano, e pedi para minhas
alunas darem as mãos, se olharem e imaginar que todas elas têm desejos,
frustrações, momentos de raiva, de alegria, de bondade, já sofreram, já amaram
e odiaram, já foram amadas e odiadas, já choraram, já riram muito. O ser humano
é assim, contraditório. E pedi que elas esquecessem um pouco de si mesmas e pensassem
nas suas colegas, porque na aula de dança focamos o tempo todo em nós, queremos
melhorar os movimentos, evoluir, aprender mais, queremos nos destacar.
Temos um espelho a nossa frente que nos mostra o que temos de bom e o que temos
de ruim. E nas muitas vezes em que pensamos na nossa colega de aula, é com
impaciência porque ela não consegue aprender um passo, ou com inveja por ela
ter facilidade na realização dos movimentos, e quase nunca nos colocamos no lugar dela,
imaginando que ela poderia ser você. Falei para as meninas que é importante
sim, essa busca da excelência e realização pessoal, mas também é importante
lembrar que quando colocamos o pé na sala de aula somos um grupo, uma equipe e
quando formos nos apresentar não adianta apenas uma aluna estar linda, executando os movimentos com perfeição se não está acompanhando o grupo. Então
pedi que elas fossem mais tolerantes umas com as outras, inclusive consigo
mesmas. Porque temos uma tendência a nos colocar para baixo, só enxergamos
nossos defeitos e esquecemos de nos parabenizar pela coragem de aprender uma
coisa nova, por cada passo aprendido, por cada melhoria conquistada.
E quando começamos uma coisa nova, sentimos ansiedade,
as vezes sentimos tanto medo que preferimos nem começar, e me lembrei de como
foi minha primeira aula, decidi fazer dança do ventre quando
me mudei pra São Paulo e estava me sentindo triste e solitária, longe da minha
família. E lembro que me matriculei no Khan El Khalili que era perto da minha
casa (na época nem imaginava que era a melhor escola de dança do ventre de São
Paulo), e lá fui eu toda nervosa para primeira aula. Entrei em uma turma que já
havia começado e as meninas já estavam executando alguns movimentos com facilidade, e eu os achei deveras complicados. Fiquei boiando em vários momentos, e pra piorar
no final da aula a professora botou uma música, todas ficaram em círculo e cada
uma deveria ir para o meio do círculo e fazer uma dança, eu quase morri
de tanta vergonha, não sabia fazer quase nada. Voltei pra casa e chorei. Mas
como boa capricorniana que sou e não sou de desistir fácil, voltei para a
segunda aula e assim fui. E quando tinha dificuldade em algum passo, treinava
em casa.
As vezes minhas alunas, ao se depararem com algum passo complicado,
falam: “Não consigo!”, e fico brava, falo que é proibido falar “Não Consigo”
na minha aula, sabe por que? Porque o cérebro é muito poderoso e quando você
fala ou pensa “Não Consigo” o cérebro manda essa mensagem para o seu corpo e aí
o movimento não sai mesmo. É importante trocar o “Não Consigo” pelo “Vou
conseguir um dia”, porque pode ser que na hora esteja difícil, suas colegas já
pegaram o passo, menos você, não se compare, vá no seu tempo, falo isso por
experiência própria.
Além de não se cobrar tanto, ponho aqui algumas dicas de
aula para todas as alunas (as que irão começar e as que já estão na dança do
ventre):
- É normal ficar ansiosa na primeira aula, pois não sabemos
com o que iremos nos deparar. Saimos da nossa zona de conforto, é um mundo
novo. Lembre-se que não só você está ansiosa, suas colegas também estão.
- É normal sentir vergonha.
Temos uma tendência a achar que todo mundo está olhando pra gente, que
todos estão vendo nossos passos, nossos erros, nossa descoordenação. Isso
não acontece, a única pessoa que estará olhando para você durante a aula
será a professora, as outras alunas estarão concentradas nos próprios
passos e estarão pensando a mesma coisa que você “Será que todo mundo está
me olhando?
- Para as alunas que já estão
algum tempo na dança, não corrijam suas colegas, as vezes é com a melhor
das intenções, mas isto muitas vezes pode constranger sua colega e até
mesmo a professora, que pode sentir que não está cumprindo seu papel. Deixe
que a professora corrija. Caso perceba que a professora deixou passar
algo, avise a professora em particular.
- Respeite suas colegas.
Lembre-se que cada uma tem seu tempo de aprendizado.
- Respeite sua professora. Confie na experiência dela. Se
você não confia no trabalho dela é melhor buscar outra profissional, ao
invés de ficar criticando a aula ou pedindo que ela dê o passo x ou passo
y. A professora tem um plano de ensino e cada coisa será ensinada no
devido momento, não tente pular etapas, para algumas alunas que têm mais
facilidade, as aulas iniciais podem ser bem enfadonhas, tenha paciência ou
mude para uma turma mais avançada. Caso queira que a professora se
aprofunde mais em algum tema ou passo marque uma conversa em particular
com ela.
- Seja leve. É importante a busca da evolução, do
aprendizado, mas é importante levar a aula de um modo mais leve, gostoso e
divertido. É um momento seu, um momento longe dos problemas de casa
ou do trabalho. Não leve tudo a ferro e fogo.
E lembre-se que sua professora está lá para te ajudar e
para tirar o seu melhor, e quando tiver qualquer dúvida, conflito, ansiedade,
desabafo marque uma conversa com ela. Sou a favor da comunicação, tudo se
resolve com muita conversa. E que venha 2015!Com muito sucesso, superação e
evolução na dança!